Se você examinou recentemente o corredor de pasta de dente do supermercado native, certamente notou uma marca que afirma clarear os dentes melhor do que as outras, ou talvez outra que se orgulha de seu maior teor de flúor. Mas você pode imaginar pegar uma caixa de pasta de dente que anuncia orgulhosamente que está repleta de transistores? Verdade seja dita, você provavelmente nunca o fará. Mas o progresso tecnológico pode sofrer algumas reviravoltas curiosas de tempos em tempos e, graças a um avanço recente, um dia sua pasta de dente poderá ser carregada com uma grande quantidade de transistores.
Esta possibilidade aparentemente muito estranha surgiu depois que um grupo de pesquisadores do Istituto Italiano di Tecnologia e da Universidade de Novi Unhappy examinaram de perto um aditivo comum para pasta de dente chamado ftalocianina de cobre. É um pigmento azul que, quando aplicado nos dentes, atua como um filtro óptico que lhes confere temporariamente um aspecto mais branco. À medida que o dia passa, ele sai dos dentes e desce pela escotilha. Como resultado, consumimos inadvertidamente cerca de um miligrama de ftalocianina de cobre cada vez que escovamos os dentes – supondo que este agente branqueador esteja na nossa pasta de dentes, é claro.
A arquitetura de um transistor comestível (📷: E. Feltri et al.)
Isto fornece-nos algumas evidências sólidas de que pequenas quantidades de ftalocianina de cobre são seguras para consumo humano. Curiosamente, os pesquisadores perceberam que esse pigmento é bom para mais do que apenas atuar como corante – ele também possui propriedades que o tornam um bom semicondutor. Então eles usaram ftalocianina de cobre em conjunto com outros componentes eletrônicos comestíveis, como substrato de etilcelulose, partículas de ouro e quitosana para construir circuitos comestíveis contendo transistores.
Um único miligrama de ftalocianina de cobre é suficiente para produzir cerca de 10.000 transistores, o que pode não parecer muito para os padrões atuais. Mas é mais do que suficiente para, pelo menos em teoria, construir um processador equivalente ao 6502 ou Z80 de antigamente. E é claro que os transistores também podem ser usados em sensores e outros componentes.
Colocar esses componentes em um tubo de pasta de dente pode não fazer muito sentido, mas os eletrônicos comestíveis definitivamente têm alguns usos importantes. Devidamente equipados, esses dispositivos poderiam ser engolidos para coletar dados do trato gastrointestinal para ajudar os médicos a diagnosticar e tratar uma série de condições médicas. E quando terminam seu trabalho, eles se dissolvem com segurança no nada.
Fotografia de um transistor (📷: E. Feltri et al.)
Para provar o conceito, a equipe tomou a iniciativa de desenvolver um transistor de efeito de campo orgânico controlado por eletrólito comestível a partir de uma quantidade muito pequena de ftalocianina de cobre que geralmente é considerada segura para consumo humano. Este transistor demonstrou ser capaz de modulação de corrente superior a duas ordens de grandeza. Além disso, é estável por mais de um ano no ar e pode ser acionado por menos de um volt.
Além da saúde, os pesquisadores também prevêem que seus transistores comestíveis sejam usados na indústria alimentícia no futuro. Eles podem, por exemplo, servir como etiquetas inteligentes para alimentos.